Exposição colectiva: Pensar Aragão. Mais (ou menos) exa(c)tamente — 2021
Curadoria de Carlos Valente
Julho a Dezembro de 2021 — Quinta Magnólia_Centro Cultural, Funchal
(marginalia) trabalhos de campo
[exterior]
Peça em latão, de pequenas dimensões, enterrada nos campos da Quinta Magnólia.
[interior]
Duas mesas com impressões sobre papel (80×60 cm cada);
diagrama e texto fotocopiado em duas folhas A4 (disponibilizadas ao visitante).
Para a exposição Pensar Aragão. Mais (ou menos) exa(c)tamente, foi concebida a seguinte proposta artística em três atos, sem grandes dramatismos: uma intervenção no exterior, onde uma pequena peça em latão com a frase gravada (adaptada de outra frase de Simone Weil) UM OBJECTO DESLOCADO ASSUME A SUA NOVA POSIÇÃO será (está a ser, foi) enterrada nas margens dos jardins da Quinta Magnólia, com parcimónia e sem identificação específica do local (ficando, deste modo, relegada ao abandono, na esperança de continuar a ser um objeto desajustado num futuro distante e familiarmente estranho); uma instalação no espaço interior composta por duas mesas e duas impressões sobre papel mostrando diversos materiais visuais (fotografias, diagramas, desenhos e um breviário conceptual); e por fim, em formato folha de sala distribuída aos visitantes durante a exposição, uma extensão do trabalho com texto e o esqueleto de diagrama para ser completado por quem assim o pretender. Os diversos elementos que constituem o trabalho apresentado para este projeto expositivo orbitam em torno desta ideia de enterro assíncrono, ao mesmo tempo próximo e retirado do conjunto a que pertence.
Por outro lado, a proposta mantém uma aproximação distanciada, e transversal, relativamente à figura de António Aragão. Não o conheci pessoalmente, foi sobretudo por meio de histórias curiosas que fiquei a conhecer a multidimensionalidade de alguém que quis transgredir fronteiras, que se deixou contaminar por uma pluralidade de linguagens, aquele que sempre me pareceu ser uma espécie de ilhéu sem ilha. Figura dissonante no seu tempo (que era o tempo de outros), influenciou uma geração não só de historiadores e de artistas, mas de pessoas que com ele conviveram e que ficaram marcadas pela sua memorável presença.
Um aspeto que me interessou na obra de Aragão foi precisamente o encontro desencontrado entre a atividade profissional de historiador, etnógrafo e arqueólogo e a prática artística e literária no seu registo experimental. A aparente impossibilidade de conciliação entre estes dois mundos é a mesma que deixa (in)advertidamente uma porta aberta à possibilidade de infinitos diálogos. Uma abertura direi diagramática, dada a sua vasteza relacional.
in Nota (qualquer coisa) biográfica. Catálogo da exposição, p. 13-14.
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