Epílogo: A Questão do Curador, ou Três Torções de Retração
Proibição. Ter-se-á resumido a uma ausência. A exposição clássica de artes visuais começa e termina com uma proibição: Não tocar. O toque, certamente, entre a obra exposta e o observador, cujas reflexões terão sido suscitadas por essa retirada da posse física e intelectual. A mesma proibição terá sido aplicada, como o reverso de uma moeda, ao espaço necessário que individualiza as próprias obras.
Inibição. Esta inibição pervasiva terá aberto e formado um espaço reservado para o elemento em falta que torna possível a apresentação artística: o conceito organizador, a combinatória de objectos, a chuva torrencial lá fora, o espaço reduzido da galeria, o atraso do espectador perdido, o sapato gasto do vigilante, o elevador vazio, o piscar intermitente do sinal de saída, o balde do contínuo por detrás do fecho da porta do armário, a morte do velho pedreiro…. No fim, como no princípio, o procurador terá assinalado a principal e indefinida força motriz: o curador ausente. E, no entanto, esta ausência permanece, no fundo, uma lacuna.
Exposição. Não será por acaso que as três palavras - proibição, inibição e exposição - têm histórias relacionadas. O curador convidado ex post facto terá lançado o conceito inesperado do decálogo sobre uma exposição previamente proposta, formada por dez peças, como uma espécie de rede de pesca náutica. A rede surpresa do curador terá, por sua vez, transformado a proibição na inspiração para fundir as peças individuais em novas obras. A proposta original de exposição apresentava uma “luta” entre Karl e Ady: Marx e o seu companheiro peludo. Uma barba e um cão. Um paraíso florestal. Um desfile de moda. Um pescoço e ombros que se contorcem por baixo de uma barba que não se vê. Na rede curatorial, o cão ter-se-á virado do avesso para reaparecer como uma barba feita de tacos de bilhar. As salas da galeria transformam-se numa mesa de jogo para uma partida, no preciso momento de contacto produzido pela tacada de abertura. Crac!
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