Archive for Dezembro, 2012

Um passeio com Johnny Guitar

João César Monteiro, Um passeio com Johnny Guitar, 1995

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A linguagem, o corpo, fazem parte de uma só voz: aquela que transporta uma forma esquelética, como uma estátua viva, percorrendo as ruas da cidade. Um passeio com Johnny Guitar mostra precisamente essa fragilidade: a de um corpo-filme fazendo parte da estrutura dos prédios antigos, no labirinto de olhares, na solidão dos quartos, que as persianas subtilmente escondem. E também o diálogo com um filme que não vemos, mas ouvimos, inseparável de uma pregnância melancólica (o fim do cinema como mecanismo de emoções e de ideias, seria assim todo o cinema do início do século XXI). É um corpo fílmico, também, que soluça um gesto polémico, transgressor, politicamente incorrecto –porque alguém tem de o ser.

vídeo

 

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o invisível desfaz-se na realidade

obra (graffiti) de Vasco Basko

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«O que interessa ao historiador do quotidiano é o invisível» (Michel de Certeau)

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(de-)installation art

Stefan Brüggemann

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O modelo hegemónico da instalação artística. Rosalind Krauss e Hal Foster têm vindo a criticar este modelo, sobretudo aquele mais espectacular, hiper-tecnológico e híbrido. Destes autores, ver os recentes livros: Under Blue Cup (MIT Press, 2011) e The Art-Architecture Complex (Verso Books, 2012)

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Nota: o capital do ismo

Alejandro Cesarco: Footnote #1, 2006

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A nossa tarefa é a de juntarmos os pedaços deixados por outros

Monika Sosnowska: Maquette for The Hole, 2006

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«Só quem soubesse contemplar o próprio passado como fruto da coacção e da necessidade seria capaz de, em cada momento presente, o valorizar ao máximo para si. Porque aquilo que se viveu é, na melhor das hipóteses, comparável a uma bela escultura à qual, no transporte, quebraram todos os membros, e nada mais oferece que o bloco precioso a partir do qual terá de se esculpir a forma do futuro.»

(Walter Benjamin: Estrada de Sentido único, Lisboa, Relógio D’Água, 1992, p. 74)

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Atlas phainomenon

Aby M. Warburg: Atlas Mnemosyne, 45, 1924-29

Salvador Dalí: The Phenomenon of Ecstasy, photomontage, 1933.

André Malraux «Das imaginäre Museum» | das-imaginaere-museum

André Malraux: O Museu Imaginário, fotografia de 1950.

Marcel Broodthaers: Muséed’art Modern, Département des Aigles, 1968-72.

Gerhard Richter: Atlas, sheet 8, 1962 ( Zeitungsfotos)

Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede. Imagens de Método, Porto, Dafne Editora, Dezembro 2011.

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O Atlas não é o puro arquivo ou a acumulação, é o fenómeno intrincado, gerado pela ligação entre fenómenos. É o impulso expressivo dessa ligação, o intervalo entre o fragmento e o todo, a incompletude da acção de colocar, lado a lado, elementos aparentemente tão diversos.

Trata-se, assim, de um movimento com uma precisão inconstante, sujeito às pressões esquizofrénicas da imagem.

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Cubomanie / Passionnément – Ghérasim Luca

                  

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Passionément

(1973)

pas pas paspaspas pas
pasppas ppas pas paspas
le pas pas le faux pas le pas
paspaspas le pas le mau
le mauve le mauvais pas
paspas pas le pas le papa
le mauvais papa le mauve le pas
paspas passe paspaspasse
passe passe il passe il pas pas
il passe le pas du pas du pape
du pape sur le pape du pas du passe
passepasse passi le sur le
le pas le passi passi passi pissez sur
le pape sur papa sur le sur la sur
la pipe du papa du pape pissez en masse
passe passe passi passepassi la passe
la basse passi passepassi la
passio passiobasson le bas
le pas passion le basson et
et pas le basso do pas
paspas do passe passiopassion do
ne do ne domi ne passi ne dominez pas
ne dominez pas vos passions passives ne
ne domino vos passio vos vos
ssis vos passio ne dodo vos
vos dominos d’or
c’est domdommage do dodor
do pas pas ne domi
pas paspasse passio
vos pas ne do ne do ne dominez pas
vos passes passions vos pas vos
vos pas dévo dévorants ne do
ne dominez pas vos rats
pas vos rats
ne do dévorants ne do ne dominez pas
vos rats vos rations vos rats rations ne ne
ne dominez pas vos passions rations vos
ne dominez pas vos ne vos ne do do
minez minez vos nations ni mais do
minez ne do ne mi pas pas vos rats
vos passionnantes rations de rats de pas
pas passe passio minez pas
minez pas vos passions vos
vos rationnants ragoûts de rats dévo
dévorez-les dévo dédo do domi
dominez pas cet a cet avant-goût
de ragoût de pas de passe de
passi de pasigraphie gra phiphie
graphie phie de phie
phiphie phéna phénakiki
phénakisti coco
phénakisticope phiphie
phopho phiphie photo do do
dominez do photo mimez phiphie
photomicrographiez vos goûts
ces poux chorégraphiques phiphie
de vos dégoûts de vos dégâts pas
pas ça passio passion de ga
coco kistico ga les dégâts pas
le pas pas passiopas passion
passion passioné né né
il est né de la né
de la néga ga de la néga
de la négation passion gra cra
crachez cra crachez sur vos nations cra
de la neige il est il est né
passioné né il est né
à la nage à la rage il
est né à la né à la nécronage cra rage il
il est né de la né de la néga
néga ga cra crachez de la né
de la ga pas néga négation passion
passionné nez pasionném je
je t’ai je t’aime je
je je jet je t’ai jetez
je t’aime passionném t’aime
je t’aime je je jeu passion j’aime
passionné éé ém émer
émerger aimer je je j’aime
émer émerger é é pas
passi passi éééé ém
éme émersion passion
passionné é je
je t’ai je t’aime je t’aime
passe passio ô passio
passio ô ma gr
ma gra cra crachez sur les rations
ma grande ma gra ma té
ma té ma gra
ma grande ma té
ma terrible passion passionnée
je t’ai je terri terrible passio je
je je t’aime
je t’aime je t’ai je
t’aime aime aime je t’aime
passionné é aime je
t’aime passioném
je t’aime
passionnément aimante je
t’aime je t’aime passionnément
je t’ai je t’aime passionné né
je t’aime passionné
je t’aime passionnément je t’aime
je t’aime passio passionnément

(http://editions-hache.com/av/luca-passionnement.mp3)

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forma

Tony Smith, “Cigarrete”, Museum of Modern Art, N.Y., 1979 (photo by Hans Namuth)

«O problema da Forma, o homem como produtor de formas, como escravo das formas, o facto de conceber a Forma Inter-humana como força criativa por excelência (…)»

(Witold S. Gombrowicz, Morte ao Dante, Lisboa, & Etc, 1987, p. 29)

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Sonatine Bureaucratique – Erik Satie

Uma nota de humor burocrático, muito adequada aos tempos que correm.

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«Vim ao mundo a tantos de tal, fui educado em tal sítio, fui para a escola como qualquer um, sou isto e aquilo, chamo-me fulano de tal e não penso muito. (…)

Não esforço particularmente a cabeça, deixo isso às outras pessoas. Quem esforça a cabeça torna-se odiado. Quem pensa muito tem fama de ser incómodo. Já Júlio César apontava o dedo grosso a Cássio, esquelético e de olhos encovados, a quem temia porque suspeitava que ele tinha ideias na cabeça. Um bom cidadão não pode  inspirar medo e suspeita. Pensar muito não é o seu ofício»

(Robert Walser, “Basta!”, in O passeio e outras histórias, Porto, Granito, 2001, p. 99)

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The End

The End #23 (2002) de Ed Ruscha. A ideia de fim, enquanto pausa que antecipa uma continuidade imprevisível, aqui, sugerida por Ruscha no cliché cinematográfico do cinema clássico. Qual foi o primeiro filme a renunciar a esse rótulo anunciador daquilo que sabemos que vai acontecer, mas raramente antecipamos. Fim. The End. Fin. Konec.

A ideia de fim associada à morte. A fotografia de uma múmia chilena por Chris Marker. Chris maker: o fazedor de histórias, de leituras e releituras da história. Esta imagem tão reveladora do fim: riso mordaz ou grito de desespero? As múmias somos nós por dentro, a morte vedada/velada pela pele.

Começar pelo fim é tentar não escapar à infância, tão frágil, aterradora, mas ao mesmo tempo tão liberta de preconceitos.

Um retorno sem lugar.

O ponto.

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