João César Monteiro, Um passeio com Johnny Guitar, 1995
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A linguagem, o corpo, fazem parte de uma só voz: aquela que transporta uma forma esquelética, como uma estátua viva, percorrendo as ruas da cidade. Um passeio com Johnny Guitar mostra precisamente essa fragilidade: a de um corpo-filme fazendo parte da estrutura dos prédios antigos, no labirinto de olhares, na solidão dos quartos, que as persianas subtilmente escondem. E também o diálogo com um filme que não vemos, mas ouvimos, inseparável de uma pregnância melancólica (o fim do cinema como mecanismo de emoções e de ideias, seria assim todo o cinema do início do século XXI). É um corpo fílmico, também, que soluça um gesto polémico, transgressor, politicamente incorrecto –porque alguém tem de o ser.
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